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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Amor em três tons

O velho violão está lá encostado à mala. Exposto ao vento que sopra freneticamente, metendo-se entre as cordas de metais. É ele que entra brecha adentro e desata um som quase mudo (uuuuuuuuuuuuuuuu), saculejando o corpo de madeira já desbotado e seco. As janelas arquejam em repetidas batidas (tac-tac-tac...), percussivos sons que acompanham o ato. O velho violão continua lá parado, retesado ao lado da mala. Está se acostumando àquela mala, ao canto da casa, à agudeza daquele vento. Espera um toque, uma carícia mais leve em suas cordas rijas, mas o vento é abrasivo e toca-o com aspereza. O velho violão espera, assim como a mala vazia. O vento insiste, entra desatinado, arrebatador pela vias abertas. Entra e sai sem pedir licença. Derruba a mala. Afinal, já é velho conhecido dos cantos da casa, já sabe como se fazer ouvir e por isso toca tudo exigindo reverência. O mar o traz, a casa o recebe. Já faz parte daquele velho ambiente vespertino. Mas o velho violão, não! Nem a mala! Ela não estava lá, antes, naquele lugar. São visitantes! Por isso o vento toca, bate na mala e desfigura o som do velho violão. Desafina-o sem respeito, sacodindo os seus duros trastes. O velho violão se entrega e espera pelo fim do drama. Pela noite, a brisa salobra do mar invadiria o quarto. O cheiro despertaria o seu som mais belo. Ele a espera. Espera sempre por seu toque úmido, suave, escorregadio. Quanto à mala, será cheia e seguirá seu destino, se preciso for.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Poema de amigo

Um bom amigo é como um teto aquecido em tempo de frio
Um banho quente que não dá para largar
Um toque de vida para superar as enfermidades da alma

Amar é isso!
A simplicidade e a compreensão de nos aceitarmos mesmo diferentes
De nos aconchegarmos num grande abraço
Mesmo na distância

Do Pium

Escuta o som da chuva
Caindo sobre o telhado
Ele me acalma
Umedece-me a alma
Deixa-me sonolenta e relaxada

Escuta o som do vento
Uivando entre as brechas das portas e janelas
Ele faz sentir-me viva
Desperta-me!
Deixa-me atenta

Escuta o som do mar
As ondas debatendo-se nas pedras
As gotas de água
Os respingos das telhas
Que estalam, vão e voltam
Eles me recobram o lugar
Reafirmam a minha origem
De cá.