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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

doce indefinição (texto sobre música de Oswin Lohss)

os ventos que sopram
são apenas fugas de brisa
que me ditam ao coração
eu os conheço bem

os ventos que sopram
rasgam sobre a ferida
que seguram a mão da canção

mas eu não sei viver
feito areia solta
sobre o nosso chão
que me gruda ao corpo
e se espalha

epidemia louca
quase sem razão
que não quer sair

amor demente
de tanto mentir
que sempre aborta
pari a vontade
a vontade de uma vez fugir

os ventos que sopram
são brisas
sopram leves para lembrar
do lugar e de você
mas eu não sei ouvir

os ventos me levam
até que me prenda a canção
assobiando sim ou não

doce indefinição
sim... não... lá...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

em flor



Como as flores
Sinto a vontade do sol
De ir e vir
Como as flores
Espalho-me com o desejo dos colibris
Quando me suga o néctar
E segue para outros jardins
Como as flores
Sinto o prazer de ser tocada
Exalo cheiros
Balanço, escorrego
Despetalo-me
Ao sopro dos ventos

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Em - tu - brada

à amiga Vera

Meu mundo está aqui
embrulhado em uma bolha plástica
conectado por filetes
que me lampejam o ar de fora

Vejo sombras?
Não sei!
Vejo vocês?
Talvez!
Escuto os que me chamam

Sei dos tubos que me ligam
Eles me fazem permanecer
Ser mais uma entre vós

Se quero ou não?
Não sei!
Talvez respire com o desejo do outro
ou tenha medo do desconhecido
ou ainda, esteja esbarrotada de auto piedade
- até ontem, fazia palhaçadas com as amigas

E, se nada disso
Me vejo daqui
Em meu mundo de plástico
Vocês se mexendo à minha frente
Vindo em minha direção
Acenando e falando comigo como a um bebê
ou a um estrangeiro distante
Em uma tentativa hilária
de comunicação

Enquanto isso o tempo passa
sem que eu conte as horas
sem que eu veja a noite
ou saiba do dia

Os períodos se revezam
entre as quebras de luzes,
os procedimentos de rotina
e o gosto de plástico

quarta-feira, 13 de abril de 2011

meu cercado

É uma flor que sai de mim
roxa, aberta, quase sem folhas
que nasce na areia solta
sem adubo, sem acolhida
alimentada pela maresia
que cresce e se esparrama pelos cercados
entre as brechas de ramas teimosas
sem nomes, sem leito,
sem rio para correr
que assim como ela
embelezam o simples feixe de vara
do meu jardim

terça-feira, 12 de abril de 2011

Poema de segunda-feira

Hoje, tenho um poema a fazer
Em meio a tantas demandas
A tantos papéis
A tantas obrigações
A tantos encontros
E, após final de semana intenso
− Teus olhos gris
Que me olharam como à caça
Têm a cor do mistério
Apreciá-los é como olhar o mar
Belo e atrativo a distância,
Incertos ao adentrarmos

quinta-feira, 31 de março de 2011

Arborescendo

Aprendi a andar por várias estradas
ruas de asfalto, de pedras
barrentas
secas e lameadas
ou molhadas pelo mar
em cada canto um ninho
galhos que me amarram
e ao sopro dos ventos
me lançam a outros caminhos
sigo, jogando sementes
colhendo vontades
marcando terreno
levantando frentes
absorvendo o suco de várias raízes
oferecendo néctares guardados para frondar árvores
Aprendi a seguir e a voltar, sempre
Mas, ainda não aprendi a andar sozinho

segunda-feira, 14 de março de 2011

Quando a lua sorriu

A lua sorriu por essas bandas
Vejam só
A lua, lá adiante, me sorriu!
Sem saber o que chega
Nem o que se vai
os sons, os silêncios
as notas habituais
Nada a importa
Ela ri para mim em festa
E se ela sorri
Porque não posso eu sorrir com ela?
Ah, lua danada que sorri
Faz-me ver as estrelas
E celebrar a existência
sorrindo!

Fátima