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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Aquarela

Retratos de um sonho
Construído em polêmicas vazias
Sem sentido algum
Na natureza em tela
O que é ela, linda
Com flores amarelas
Vontade exposta em seu corpo
Pálido, esquálido
Tatua o que pode ser apenas mais um
Entendo a sua fixidez
Sou cúmplice de sua ilusão
E como ela, sou tudo e nada
Sem filtros

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ventos do equador

Minha boca abre-se ao sol quente
Seca da terra
Reclama pelas lágrimas que escorrem pela face
De alguém que chora
Sol rasgado esse
Arrepios de brisa morna que enfraquece a gente
Com poeira e sem sal
Tanta luz sobre a serra
Que desenha com perfeição os seus contornos sombrios
São os ventos do equador
Que me levam estrada adentro
Ao reverso do meu chão

Piauí, 26/08/2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ser tão

Não, não quero o campo nas entrelinhas
Quero o sabor do chão
O cheiro do orvalho
Os ventos fortes
As vozes secas poeirentas
Desta terra vermelha
Quero a imensidão

O sol arde sob minha pele
Queima, posso senti-lo
Nada aqui é suave
Ao contrário, é tão intenso
Que mal podemos perceber
Suas formas
São rumores de furacão
Que nos envolvem e nos levam emboladas
Feito coisa sem raiz

O suor escorre em meu corpo
Sacoleja-me, deixa-me inquieta
Sou tão humana
Assim imperfeita
Sou tão pequena
Neste lugar

Serei ainda gente ou mulher, nesta invenção?
Talvez metade que fica
Ou ainda parte que quebra
Que lamenta e chora saudosa
E resigna-se
Para em algum momento abortar-se
Em meio aos ventos fervorosos
Até diluir-se inteira
Levada pelas torrentes que invadem
E que se assentam em noites
Inebriadas de torpor e paixão

quinta-feira, 29 de maio de 2014

part-ida


E a cada canto que vai
encontra flores
que enchem o seu jardim de cores
e abrandam as fendas doridas
da saudade que sempre fica

E embalada pelas ondas da rua das ondas
e pelo vento escaldante do sertão
sai pelas estradas
leva os seus amores
até que ela não seja mais ida
nem totalmente partida
nem tão somente chegada
mas apenas vida que fica
e também quer ser levada

segunda-feira, 10 de março de 2014

Somos todas Margaridas
Em memória a Margarida Alves, sindicalista rural da Paraíba, morta em 1973

Era luta todo dia
Labuta de casa à roça
E sabia que a terra que via
Sairia dali boas novas
Por isso cantava para todos os lados
A música da liberdade
Denunciando os abusos
Dos donos de terra e da verdade

Mas foi em um dia desses
Um dia desses de luta
Que capangas lhes tiraram a vida
Em nome dos que dominavam
Incomodava a mulher
Que falava pelos seus
Mulher que já era flor
Cuja vida o nome lhe deu

Hoje são muitas mulheres
Espalhadas pelos campos do Brasil
Todas pela vida, em marcha, floridas
Todas em luta Margarida

sábado, 22 de junho de 2013

apesar da chuva


Hoje, eu quero o amor
que ficou
sem flores
lavado de chuva
encharcado se for
Eu quero o amor
Sem dores, sem mortes ou desculpas
seja assim como for
Eu só quero o amor
E você me dirá onde ele está
o teu amor?
Eu vou buscá-lo
Aponta-me
Mostra-me aonde está o teu amor
Que irei buscar
Apesar da chuva
eu vou te chamar, meu amor
Porque hoje
hoje eu quero o amor


sábado, 15 de junho de 2013

Inspiração


Você
me inspira
me pira
Você
me arrebata
me passa
não liga
me instiga
Você
me nota
me encosta
me esfria
me espia
Você
me toca
se entoca
me afrouxa
me acocha
E eu respiro
E inspiro
Você